quinta-feira, abril 21, 2005

Trocas & Baldrocas

Já lá vão alguns anos que o Maria Matos era iluminado pelos focos televisivos... Hoje vê o Arre Potter Qu'é de Mais (com a Dra. Odete Santos como cabeça de cartaz e com o Toy como atracção especial no próximo dia 11/5).

Fizeram 23 anos que o Maria Matos viu o Trocas Baldrocas da Cândida Branca Flor ficar em segundo lugar no Concurso RTP da Canção e a RTP continua a insistir nas suas trocas e baldrocas, com emissões de quase 24 horas com o ex-Raztinger.

O problema maior foi durante o jogo do Boavista (ok... eu deveria dizer o jogo do Setubal-Boavista ou melhor, do... ok... não vou entrar numa onda de discussão futebolística... o "jogo" ponto final). E já não estou a falar relativamente aos não sei quantos minutos que a emissão da RTP parou com fundo negro, nem no intervalo ficar a ver a imagem EM DIRECTO de um lindo relvado sem qualquer acção a desenrolar. Estou sim a falar das legendas que apareceram em rodapé (felizmente eram letras pequeninas... ok... valha-nos isso...) mas custou... Custou ler no canal de televisão pública, que o que estava a acontecer era devido a uma "ANORMALIA TÉCNICA".

Eu já cheguei a ficar desorientado quando ouvi dizer "quinentAs gramas de extasy" (sendo a unidade de massa "grama" um substantivo MASCULINO) e o extasy não ser nenhuma substância derivada da relva.

Eu já cheguei a ferver com as temperaturas para o dia seguinte serem apresentadas nuns tais "grau CENTÍGRADOS" em vez de Celsius, pois o nome da escala de temperatura que está a ser utilizada é a escala de Celsius (que é uma escala centígrada como muitas outras escalas - mais informações nos manuais escolares (porque fica sempre bem fazer de um manual escolar uma bíblia) do 8º ano de escolaridade).

Eu já cheguei a vituperar quando falavam num tal "Instituto de METROlogia" querendo dizer que as informações tinham sido fornecidas pelo Instituto de METEOROLOGIA português ... (pois é: O Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica... e "Meteorologia" não é uma palavra fácil de ser pronunciada... mas para isso é que existem aulas de dicção... mas também convenhamos que para quem consegue dizer "quaisqueres" não deve ser muito difícil pronunciar "meteorologia"...)...

Mas desta vez foi diferente... Fiquei sem reacção ao olhar a anormalidade de quem teve a coragem de aceitar a cunha, para que um anormal, que não sabe escrever correctamente em Poruguês, colocasse legendas numa estação de televisão ...

Para cúmulo dos cúmulos, uma estação de televisão PÚBLICA!... E o público vê as legendas a passar e fica a pensar: "será que li bem?"... "será que está correcto um terá sido uma anomalia?"... ("se está escrito no ecrã do meu televisor deve estar correcto...").

Por falar em erros de português... Será que foi retirado da função pública o responsável por ter dado emprego ao fulano que, durante a companha eleitoral anterior, lançou para os ecrãs de todos os portugueses a nova palavra: "RÉPUBLICA"...

Pois bem D. Cândida! Agora só falta fazer a reedição remix do seu disco (para que agora, post mortem, continuem a dizer que é moderna!). Já o fizeram com as suas amigas Doce (que lhe roubaram o primeiro lugar no Festival daquele ano de 82)... A velha história do Harry Potter a Dormir com o Inimigo...

Mas deixe lá D. Cândida... Quer a menina quer as outras moças eram modernas... e parece que querem que assim continue:

- A RTP continua a considerar que os "Hey", depois dos "Bem Bom", Continuam no moda e agora são novamente utilizados nos Hey depois de outros vocábulos de difícil compreensão mas muito fáceis de pronunciar... coisas como: "amar, amar, sempre, sempre anyway", "de mar em mar, Hey!", "ver e vencer, Hey!, "amar, amar, always day by day"...

- Eu continuo a dizer que a menina não se deve sentir nada mal, e digo isto por exemplo porque:

1. A capa do seu disco continua a parecer saída da objectiva do David LaChapelle;

2. O corpo da menina era melhor do que o de qualquer corista do "moderno corpo de baile" do Maria Vitória...

... continuando em ritmo de Festival RTP da Canção, fico-me por 1983:

Primeiro a serra,
semeada Terra a Terra,
nas vertentes da promessa.
Depois o verde.
que se ganha ou que se perde.
quando a chuva cai depressa.

E nasce o fruto,
quantas vezes diminuto,
como as uvas da alegria.
E na vindima,
vão as cestas até cima,
com o pão de cada dia.

Suor do rosto,
p'ra pisar e ver o mosto,
nos lagares do bom caminho.
Assim cuidado,
faz-se sonho fermentado,
generoso como o vinho.

E pelo rio,
vai dourado o nosso brio,
nos Rabelos de uma vida.
E para o mundo,
vão garrafas cá do fundo,
duma gente envaidecida.

Por isso há festa,
não há gente como esta,
quando a vida nos empresta,
uns foguetes de ilusão!
Vem a fanfarra,
e os miúdos, a algazarra,
mais o Povo que se agarra,
p'ra passar a procissão.

E são atletas,
corredores de bicicletas,
e as palavras indiscretas,
na boca de algum rapaz.
E as barracas,
mais os cortes nas casacas,
os conjuntos, as ressacas,
e outro brinde que se faz:

Vinho do Porto,
vou servi-lo neste cálice,
alicerce da amizade em Portugal!
É um conforto
duma dor tomada aos tragos
que trazemos por vontade em Portugal!

Se nós quisermos entornar a pequenez.
Se nós soubermos ser amigos desta vez.
Não há champanhe que nos ganhe,
nem ninguém que nos apanhe,
porque o vinho é português!

Vinho do Porto,
Vinho de Portugal.
E vai à nossa,
à nossa Bera-Mal!
Á Beira-Porto,
há vinho por tomar,
há-de haver porto,
para o nosso mar.

Vinho do Porto,
Vinho de Portugal.
E vai à nossa,
à nossa Bera-Mal!
Á Beira-Porto,
há vinho por tomar,
há-de haver porto,
para o desconforto,
(para o que anda torto)
neste navegar!

Carlos Paião

Teseus

terça-feira, abril 12, 2005

Everybody is free to wear sunscreen - 2


A pedido de muitas famílias, e devido à coincidência extraordinária do Dr. Mendes me ter enviado estes link, aqui fica o vídeo e a letra de uma óptima sugestão: Usem Protector Solar...

Teseus

domingo, abril 10, 2005

Viajando pela Cidade e as Serras

...
E apenas pela porta desaparecera a esplêndida aparição.

-Ó Jacinto, eu daqui a um instante também quero água! E se compete aesta rapariga trazer as coisas, eu, de cinco em cinco minutos, quero uma coisa!... Que olhos, que corpo... Caramba, menino! Eis a poesia, toda viva, da serra...

O meu Príncipe sorria, com sinceridade:

-Não! não nos iludamos, Zé Fernandes, nem façamos Arcádia. É uma bela moça, mas uma bruta... Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa linda vaca turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe bem. Para isso a fez a Natureza, assim sã e rija; e ela cumpre. O marido todavia não parece contente, porque a desanca. Também é um belo bruto... Não, meu filho, a serra é maravilhosa e muito grato lhe estou... Mas temos aqui a fêmea em toda a sua animalidade e o macho em todo o seu egoísmo... são porém verdadeiros, genuinamente verdadeiros! E esta verdade, Zé Fernandes, é para mim um repouso.

Lentamente, gozando a frescura, o silêncio, a liberdade do vasto casarão, retrocedemos à sala que Jacinto já denominara a Livraria. E, de repente, ao avistar num canto uma caixa com a tampa meio despregada, quase me engasguei, na furiosa curiosidade que me assaltou:

-E os caixotes? Ó Jacinto?... Toda aquela imensa caixotaria que nós mandamos, abarrotada de Civilização? Soubeste? Apareceram?

O meu Príncipe parou, bateu alegremente na coxa:

-Sublime! Tu ainda te lembras daquele homenzinho, de saco a tiracolo, que nós admiramos tanto pela sua sagacidade, o seu saber geográfico?... Lembras? Apenas falei em Tormes, gritou que conhecia, rabiscou uma nota... Nem era necessário mais! “Ó! Tormes, perfeitamente, muito antigo, muito curioso!” Pois mandou tudo para Alba de Tormes, em Espanha! Está tudo em Espanha!

Cocei o queixo, desconsolado:

-Ora, ora... Um homem tão esperto, tão expedito, que fazia tanta honra aoprogresso! Tudo para Espanha!... E mandaste vir?

-Não! Talvez mais tarde... Agora, Zé Fernandes, estou saboreando esta delícia de me erguer pela manhã, e de ter só uma escova para alisar o cabelo.

Considerei, cheio de recordações, o meu amigo:

-Tinhas umas nove.

-Nove? Tinha vinte! Talvez trinta! E era uma atrapalhação, não mebastavam!... Nunca em Paris andei bem penteado. Assim com os meus setenta mil volumes: eram tantos que nunca li nenhum. Assim com as minhas ocupações; tanto me sobrecarregavam, que nunca fui útil!
...

Eça de Queiroz